Opinião

OPINIÃO: Violência política faz mais uma vítima

No último sábado (20), cerca de 400 pessoas (segundo os organizadores) marcharam do centro de Valinhos à Catedral da cidade em protesto contra o assassinato do Sr. Luis Ferreira da Costa integrante do MST e morador do acampamento Marielle Vive. Seu Luis tinha 72 anos e na quinta-feira (18) participava de um ato organizado pelo MST que reivindicava água para o acampamento, no qual vivem cerca de 1000 famílias.  Ele foi atropelado quando um homem acelerou sua caminhonete contra os manifestantes. O assassino foi preso em flagrante e confessou o crime.

Na delegacia, um irmão do acusado, verbalizou o sentido político do crime: “tem que pegar o caminhão e passar por cima, porque a estrada é livre para todo mundo andar” e completa “sou contra nego fazer passeata e atrapalhar todo mundo”[1]. Segundo testemunhas, o acusado não prestou socorro à vítima e ameaçou outros manifestantes utilizando uma arma de fogo.

Esse é mais um ato na escalada de violência política contra ativistas que marca a ascensão da direta radical no país



Dimitri Sales, presidente do Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe) destaca essa associação entre o aumento da violência política e os governos de Jair Bolsonaro e João Dória, em São Paulo. “Infelizmente esse fato está ligado a todo um contexto de violência estimulado pela eleição de Bolsonaro e aqui em São Paulo é estimulada pelo Governador Dória. Essa morte marca mais uma vez a escalada de criminalização dos movimentos sociais (...).[2]

Nunca é demais lembrar: após o anúncio do resultado do primeiro turno das eleições, Bolsonaro afirmou que iria acabar com toda forma de ativismo. Eleito, afirmou que “partir de primeiro de janeiro sem-teto, sem-terra seriam tratados à base da bala".  Numa cultura política pouco afeita à luta por direitos, esse tipo de declaração confere aos ditos “cidadãos de bem” permissão para matar.

O senhor Luis nasceu no Sertão do Cariri, em Pernambuco. Era pedreiro e agora estava aprendendo a ler numa escola montada no acampamento. Mais cinco semanas e ele teria o diploma oferecido pelo MST, que é reconhecido pelo MEC. Sua educadora a professora Cicera Alves Bezerra, de 62 anos, relembra a última aula, conforme esse relato publicado no DCM[3]“Em grande parte das palavras com sílabas ‘gue’ ou ‘gui’, o som do ‘u’ não é lido, o que permite a dissociação de ‘ge’ e ‘gi’, que quando pronunciadas emitem som similar ao ‘je’ e ‘ji’. Cicera insistia já pela segunda aula seguida com Ferreira da Costa sobre essas regras. ‘Ele gaguejava demais para falar as palavras com ‘gue’ e ‘gui’. Por isso, na última noite de vida, o pedreiro foi convidado pela educadora a construir frases com palavras propostas por ela. Na lousa, ‘gueixa’, ‘guerreiro’, ‘guerra’, ‘gueto’, ‘guepardo’ e ‘gueixa’. De sua cadeira, o pernambucano ditou duas frases à professora: ‘Eu sou guerreiro’ e ‘eu vou para a guerra’.”

>> Manifestamos nossa solidariedade com a família do Senhor Luis, com os moradores do acampamento Marielle Vive, com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e com todos aqueles ativistas que nesse momento tão adverso lutam por justiça social.  

* O vídeo está disponível em https://www.brasildefato.com.br/2019/07/18/policia-prende-suspeito-de-atropelar-membros-do-mst-e-matar-idoso-em-valinhos-sp/

[2] https://www.youtube.com/watch?v=yyKBhFLAZUQ

[3] https://www.diariodocentrodomundo.com.br/antes-de-ser-assassinado-em-valinhos-sp-luis-foi-a-escola-do-mst/

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